- Quando me inscrevi no Sisu [sistema de seleção das universidades
federais], não sabia que ia ser essa confusão. Pensei que seriam dadas
condições para os pobres. As cotas são
uma grande conquista para nós. Mas a minha impressão é que o governo dá o doce,
mas depois quer tirar. Alunos carentes deveriam ter garantia de bolsas, senão
não adianta.
O depoimento é de Jonathan Silva, jovem morador do Grajaú (extremo sul de São Paulo), recém-aprovado em
Artes Visuais para a Universidade Federal de Sergipe pelo SiSu.
Como
muitos estudantes cotistas, Jonathan não possui a mínima condição de se
deslocar para outras cidades e, nesse caso, de sequer vir a Sergipe fazer sua
matrícula institucional, muito menos de garantir sua permanência e continuidade
de estudos. Antes mesmo de fazer a prova do ENEM, sua desvantagem nos estudos
sempre foi a principal companheira. As ONGs e cursinhos populares tomam a
função do Estado, tentando equiparar as condições dos estudantes pobres que
sofrem com o caos da educação básica e ainda assim terão de passar pelo crivo
do vestibular.
O direito do acesso à educação superior parece-lhe assegurado, na medida em que ele pôde disputar um processo de seleção e ser aprovado nele. A lei do esforço árduo e da meritocracia parece ter sorrido então para Jonathan. Mas não é bem assim.
No que cabe o direito à
educação, estão imbricados os direitos não só do acesso a ela, mas à
permanência na escola também. Torna-se um elemento fundamental para que os
estudantes consigam concluir seus cursos quando o Estado fornece políticas que
buscam o equilíbrio da balança da segregação social, econômica e racial agravada
pelo ENEM e seus processos seletivos.
Essas políticas são conhecidas
como “Assistência Estudantil”, que, como diz bem o nome, atua como um braço da
assistência social, dando condições materiais aos estudantes que atestem
carência, de modo a continuarem seus estudos nas universidades e institutos. É
dessa maneira que, todos os anos, milhares de estudantes conseguem minimamente permanecer
na universidade e se formar.
Com o REUNI e a vigência das
cotas, o debate em torno da evasão dos cotistas e da necessidade de maior
atenção às políticas de AE foram se tornando o centro das pautas do movimento
estudantil combativo. O governo passou a promover intensos cortes no orçamento
das áreas sociais, dentre elas a Educação, ficando cada vez mais evidentes as
suas prioridades. Dos poucos programas que restam da AE, são insuficientes as
vagas e sua política de emancipação do estudante – dos quais, a maioria exige
contrapartida laboral ou não participação em outro programa. Das poucas casas
de estudante que existem, tampouco há projeto de ampliação. Creches para as
estudantes-mães são muito poucas e sem perspectiva de que sejam construídas
onde não há.
No fim do ano passado,
acompanhamos no Maranhão o caso do Josemiro, estudante que se acorrentou em
greve de fome na UFMA em protesto por mais vagas nas casas de estudante da
Federal. A reitoria foi ocupada também numa tentativa de diálogo com a
administração, que nunca se manifestou sobre o descaso. A falta de vagas é dos
maiores motivos de abandono e constrangimentos de estudantes vindos do interior
do estado.
Aqui em Sergipe, nem casa de
estudante temos. A bolsa-residência, que é considerado o programa de custeio de
moradia mais avançado do Brasil, é a maneira de a universidade não ter nenhuma
responsabilidade ou acompanhamento dos estudantes. A bolsa-trabalho é o maior
retrocesso em assistência, já que coloca a mão-de-obra do estudante à serviço
das atividades burocráticas da universidade, sem haver nenhuma ligação com seu
curso, ou possibilidade de ingresso em um projeto de pesquisa ou extensão.
10%
do PIB para a Educação Pública JÁ!
Investir 10% do PIB na Educação
Pública significa dar ao Jonathan e a outros milhares de brasileiros uma
oportunidade concreta de avançar em seus estudos e construir o próprio futuro.
A ANEL acredita que a prioridade do governo não pode ser o despejo de bilhões
em compra de vagas nas universidades particulares, que não dão qualquer
contrapartida à sociedade, atentando apenas para o próprio lucro. É necessário
lutarmos diariamente para que a educação pública e de qualidade seja o centro
da pauta, e quando exigimos 10% do PIB para o setor, estamos exigindo que os
estudantes do nosso país recebam mais atenção que os juros da dívida.
A luta de Jonathan é a mesma de
vários estudantes, todos os anos. O SiSu que te “abre portas em todo país” para
a graduação, deve ser o mesmo que te possibilita atravessá-la. Manifestamos
toda a solidariedade da ANEL-Sergipe e, mais do que isto, convidamos a todos os
estudantes, cotistas e não-cotistas, a lutarem cotidianamente ao nosso lado por
uma universidade verdadeiramente pública e de qualidade, com direito de chegar
até ela e de permanecer.
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